Fome de amor


".Pretensiosamente digo que assino embaixo sem
dúvida alguma. Parem pra notar, os sinais estão batendo em nossa cara todos
os dias.

Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e
transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas e
saem sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que estudaram,
trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos.

Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos
"personal dance", incrível. E não é só sexo não, se fosse, era resolvido
fácil, alguém dúvida?

Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem
necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta
olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão
"apenas" dormirem abraçados, sabe essas coisas simples que perdemos nessa
marcha de uma evolução cega. Pode fazer tudo, desde que não interrompa a
carreira, a produção.

Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar
a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de
nós.

Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos
ORKUT, o número que comunidades como:

"Quero um amor pra vida toda!", "Eu sou pra casar!" até a desesperançada
"Nasci pra ser sozinho!" Unindo milhares ou melhor milhões de solitários em
meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase
etéreos e inacessíveis.

Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada
dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz,
mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que
verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade
de cara limpa.

Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé,
brega.

Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer
ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, "pague
mico", saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou
mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora
não volta mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você
na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a
oportunidade de um sorriso à dois.

Quem disse que ser adulto é ser ranzinza, um ditado tibetano diz que se um
problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê
pensar nele. Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou
uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que
realmente não dá é continuarmos
achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou
que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém: "vamos ter bons e maus
momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer
pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo tenho certeza de que vou me
arrepender pelo resto da vida".

Antes idiota que infeliz.


ARNALDO JABOR

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